Viver com Ansiedade
Queridos Leitores,
A ansiedade é um daqueles temas tão vastos que poderíamos preencher páginas e páginas de um livro. Todos nós, em algum momento já a sentimos: antes de um compromisso importante, um exame ou uma situação inesperada… É como uma visita indesejada que chega sem aviso. O problema é quando a ansiedade deixa de ser passageira e passa a ser um estado constante de alerta que nunca desliga.
Penso que sempre me acompanhou , mas sobretudo na adolescência, apareceu na minha vida, disfarçada de perfeccionismo. Sentia que tudo à minha volta tinha de estar bem: as pessoas deviam estar felizes, os trabalhos da faculdade impecáveis, as aulas sem percalços… e eu não podia desagradar ninguém. O simples facto de pensar que podia desapontar alguém ou que algo não correria como o esperado deixava-me devastada.
Havia dias em que bastava uma mensagem sem resposta, um "bom dia" dito num tom diferente ou o silêncio de quem estava à minha volta para desencadear a preocupação dentro de mim. Sentia o coração a acelerar, perdia o apetite, e a minha mente transformava-se num turbilhão de suposições. Era exaustivo. A minha cabeça estava sempre a mil, a tentar consertar o que me rodeava, não restando mais tempo e energia para cuidar de mim. No fundo, queria agradar a tudo e a todos, como se isso fosse a única forma de encontrar alguma paz.
Partilho, em baixo, um excerto de um dos muitos desabafos e pensamentos que escrevo, este relacionado com a forma como o estado ansioso me molda e como o vejo.
“Há dias em que sinto uma insegurança e uma ansiedade de tamanha dimensão, que não me permitem saborear como deveria os pormenores da vida. Sou a minha pior inimiga, prendo-me a suposições e situações que ainda nem aconteceram, que mais ninguém quer saber e que ninguém entende. Esta ansiedade corroí e tortura. Faz-me prometer sem o puder fazer, querer ser mais do que sou… quando, no entanto, ao seu lado pareço tão insignificante: sem defesas, sem qualidade alguma, parece que está tudo errado. No meio de todo o caos, descobri o meu porto seguro: escrever e falar o que me vai na alma, o que me causa dor e onde essa dor vem, conseguir chorar sem verter uma única lágrima e puder gritar, o mais alto que consigo, sem sequer usar a voz. Sinto-me mais forte e segura, quando diante de mim tenho uma folha e uma caneta, preta, azul ou até cor-de-rosa, que é a minha cor favorita…”
Ainda há dias em que a ansiedade me apanha de surpresa e parece que tudo está errado: eu, as minhas escolhas e tudo aquilo que compõe meu mundo.
Mas, e como descrevo no texto que partilhei, descobri um porto seguro no meio desse caos: a escrita. Escrever é o meu escape, a minha forma de organizar os pensamentos e dar voz a tudo o que sinto. E, mesmo que a ansiedade ainda esteja em muitas vezes presente, aprendi a usar a sua intensidade a meu favor, até porque acredito que no fundo, não há como carregar apenas alegria na balança da vida. As coisas negativas pesam mais, sim, mas também podem ser o impulso para criar algo bonito.
É importante que tenhamos pontos de fuga, “portos seguros” para nos protegerem e (…..)