Os Pormenores da Vida
Queridos Leitores,
Saibam que para mim, é nos pormenores mais pequeninos e mais simples que encontrei, e continuo a encontrar, o verdadeiro sentido da (minha) vida….! É neles que, para mim, reside a felicidade, o conforto, a sabedoria e aquela sensação de gratidão que nos aquece por dentro. E é sobre os pormenores que hoje quero escrever.
Sempre fui curiosa com as histórias que me rodeiam. Lembro-me de, nas viagens de comboio entre Lisboa e Santarém, onde estudava, perder-me em pensamentos sobre as pessoas à minha volta. Como seria a vida daquele senhor já velhote, constipado, que carregava um saco tão ou mais velho que ele, às riscas? Para onde iria a rapariga de cabelos encaracolados que passou toda a viagem a escrever, com um olhar tão concentrado? Essas perguntas enchiam-me de uma espécie de fascínio.
Era como se o simples ato de reparar nesses detalhes e refletir sobre eles me conectasse com algo maior, algo invisível, mas profundamente presente. Não importava quantas vezes passava pelas paisagens da Lezíria do Tejo, cada vez que olhava pela janela, parecia que descobria uma nova beleza, uma nova cor no céu, uma nova nuance nos campos. Fazia questão de dizer “bom dia” ao revisor, de ceder o meu lugar a quem precisava, e de sorrir sempre que alguém me agradecia. Pequenos gestos, é verdade, mas que faziam parte da minha viagem tanto quanto o comboio em si. E sabem que mais? Essas pequenas coisas não são em vão.
Vivemos tão frequentemente em piloto automático, desejando que o dia acabe para podermos finalmente descansar ou preparar o seguinte. A nossa vida, muitas vezes, parece resumir-se a esperarmos pelo fim de semana, pelas férias ou pelas folgas. Mas será que a vida é só isso? Eu acredito que não. Para mim, a vida não está nos grandes acontecimentos, mas sim nos momentos inesperados, nos detalhes do dia a dia. Está numa gota de chuva que escorre pela janela, no cheiro do café acabado de fazer, no riso sincero de uma criança que cruza o nosso caminho. Está no crepitar do fogo numa noite fria, no aroma do alecrim que me transporta para outras memórias.
Essas pequenas coisas, quando nos permitimos senti-las e vivê-las, têm o poder de nos devolver ao momento presente, de nos arrancar daquele loop que tantas vezes nos prende.
Parece simples, mas sei que nem sempre é fácil. Há dias em que me perco no corre-corre da rotina, em que a pressão do que é urgente se sobrepõe ao que é importante. Mas tenho feito o esforço consciente de desacelerar. Por exemplo, de manhã, fecho os olhos por uns segundos enquanto espero que o chá fique pronto. Ou, ao caminhar até casa, deixo o telemóvel de lado e olho para as árvores, para o céu, para as pessoas que passam.
O mais engraçado é que, ao fazer isto, encontro pedaços de felicidade em lugares improváveis. Num livro, numa conversa, numa brisa suave que me toca o rosto. Não estou a dizer que os problemas desaparecem ou que a vida se torna perfeita. Mas sinto-me mais conectada comigo mesma e com o mundo.
Para mim, "ser feliz" não significa viver num estado de euforia constante…. isso seria impossível. Ser feliz é sentir gratidão por aquilo que temos, por quem somos e por onde estamos, mesmo que por vezes pareça insignificante. Porque a felicidade está em tudo o que nos rodeia, desde que tenhamos a coragem de prestar atenção, e a minha felicidade engradece-se nos pequenos pormenores.
Por isso, deixem-me que vos pergunte: qual foi a última vez que apreciaram verdadeiramente os pormenores e os detalhes da vossa vida?