Por Trás dos Versos #1

Queridos Leitores,

Decidi criar uma “rubrica”, se é que se pode chamar assim, das histórias dos poemas e pensamentos que redijo. Dei por mim a pensar que há poemas tão pequeninos, tão curtos, mas com significados tão grandes, que seria bastante interessante refletir, comentar e talvez desabafar.

O primeiro texto que gostava de apresentar chama-se “Expectativa” e consta do meu primeiro livro, tendo semelhança no título:

Paralisada,
Incompleta,
Acomodada.
Não vivo,
Estou à espera,
Deitada,
Que o tempo passe.
E eu aqui,
Sacrificada,
Pelas tamanhas expectativas,
Que me deixaram sem nada,
Entorpecida,
Adormecida,
Apagada.
Sou a mesma de sempre,
Só estou cansada.
— A Culpa é da Expectativa

Este poema, como tantos outros do gênero, foi escrito num momento da minha vida em que estava muito vulnerável, aprisionada numa batalha interna entre quem eu era e quem achava que deveria ser. Escrevê-lo foi uma tentativa de dar voz a sentimentos que muitas vezes eram (e são) difíceis de expressar. Mais do que simples palavras no papel, este poema reflete uma carga emocional profunda, um peso que, na altura, parecia impossível de libertar.

Lembro-me vividamente de como me sentia: presa num limbo, paralisada. Queria fazer mais, ser mais, alcançar mais. Contudo, cada esforço parecia insuficiente. Vivia obcecada em tentar corresponder às expectativas que os outros colocavam sobre mim, mas também as que eu própria me impunha. Criava constantemente padrões impossíveis de perfeição e, quando não os conseguia atingir, sentia-me frustrada, cansada e, acima de tudo, vazia. Quando escrevo “(…) à espera, deitada, que o tempo passe (…)", é como uma confissão de um cansaço profundo.

As expectativas que possuímos, tanto nos outros como as nossas próprias podem ser cruéis. Não me interpretem mal: é importante ter objetivos, ambições, sonhos. Mas, quando nos tornamos escravos dessas metas, quando nos exigimos ser perfeitos o tempo todo, perdemos a nossa essência.

Espero que, ao ler este poema, outras pessoas se sintam menos sozinhas. Que percebam que não há mal em dizer "estou cansada". Que saibam que não têm de carregar o peso do mundo sozinhas. Porque, às vezes, o maior ato de coragem é simplesmente parar, respirar e aceitar onde estamos. Não como um fracasso, mas como um momento necessário para recuperar forças.

No final, este texto não é apenas um desabafo sobre cansaço: é um convite à compaixão. Com os outros, claro, mas principalmente connosco mesmos. Porque, no fundo, somos todos humanos: falhos, vulneráveis, mas também incrivelmente resilientes. E não há mal nenhum em admitir que precisamos de descansar. Afinal, está tudo bem só estar.

Com amor,

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