Por Trás dos Versos #2

Queridos Leitores,

Neste sábado solarengo de final de Novembro, gostava de abordar e fazer a análise de um dos poemas que mais gosto e que fala sobre as situações que nos levam a enfrentar aquilo de que tentamos fugir; sobre a fé que nos guia mesmo nos momentos mais difíceis e sobre a conexão entre as pessoas e as suas fragilidades. Chama-se “Coincidências de Deus” e já tive oportunidade de o gravar, pelo que se for do vosso interesse vou deixar o link em baixo.

Curiosas coincidências
Que Deus nos coloca à frente,
Abrir feridas que tanto ardem,
E que o corpo tanto sente.

Expor os medos que mais nos assustam,
Que mais nos fazem tremer,
Dizer ao mundo onde nos encobrimos,
Sem a nossa permissão para o fazer.

E no sopro de uma brisa,
Empurra-nos contra a verdade,
Perplexos e desnudos,
Sem mantas nem algo que nos cubra a vaidade,
Deitamo-nos.
Sós, apagados e perdidos.
Deus estende-se sob o nosso leito,
Recolhendo a tristeza e afastando o perigo.

Somos feitos de carne, de ossos e de dor.
Mas a nossa essência, são pedaços de felicidade e de amor.
Que ao unirem-se criam corpos, pessoas e companhias.

São curiosas coincidências de Deus,
Que algumas almas que criou
Tenham as suas almas tão vazias.
— A Culpa é da Expectativa

Quando comecei por escrever estas estrofes, estava profundamente mergulhada em pensamentos sobre os momentos inesperados da vida, aqueles em que nos sentimos sem rumo. Como em praticamente todos textos, há algo que os desencadeia, neste caso, provavelmente um momento de reflexão e tristeza.

Os primeiros versos falam dessas mesmas coincidências, as que nos obrigam a enfrentar medos, dores e vulnerabilidades que preferíamos esconder, porque aquilo que não vemos não nos magoa e preferimos tantas vezes ignorar para não sentir. Mas, muitas vezes e através destas situações a que chamei de Coincidências, somos empurrados a enfrentá-las, o que ainda nos torna mais frágeis. omo Tentei descrever esta sensação, com as palavras "perplexo e desnudo"; como se ficássemos sem defesas, representando a maneira como estas situações nos forçam a confrontar a realidade.

No entanto, mesmo nesses momentos há a presença de algo maior, “Deus”, trazendo o conforto:

"Deus estende-se sob o nosso leito,
Recolhendo a tristeza e afastando o perigo,"

Esta foi uma forma de expressar a fé que me acompanha e me dá força e a minha forma de reconhecer que, mesmo quando tudo parece desmoronar, há algo que nos segura, que ampara a nossa tristeza e nos dá forças para continuar.

Nos últimos versos, exploro a complexidade da nossa natureza e no contraste que tantas vezes observo: como é que Deus criou almas “vazias”, que têm o intuito de nos magoar e ferir? Ainda hoje me questiono e não sei se alguma vez encontrarei respostas.

Este poema permitiu-me revisitar também a gratidão. Já escrevi algumas vezes que a escrita é minha terapia, a minha confidente…! Uso-a para puder descobrir e para encontrar respostas aos meus dilemas.

No decorrer do processo de escrita, senti que alguma da inspiração foi como um lembrete: as situações que acontecem connosco, mesmo as mais dolorosas, têm um propósito maior (as coincidências). Pensei nas pessoas que cruzaram o meu caminho, nos encontros inesperados que me transformaram, e nas situações que apesar de difíceis, me ensinaram a ser mais resiliente e a puder estar hoje a escrever para vocês.  Bem sei que, por vezes, é difícil acreditar que há um propósito nas nossas dores, no entanto, acredito que essas “coincidências” são formas de nos guiar, de nos moldar e de nos lembrar que não estamos sozinhos… e sendo eu profundamente cristã, acredito que é Deus que me guia e me conduz através das suas coincidências.

Espero que este poema e esta reflexão vos inspirem a pensar nas coincidências da vossa própria vida.

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